Quando uma influenciadora revelou que, em dois exames consecutivos, seu dispositivo intrauterino (DIU) não foi encontrado no útero, o episódio levantou não apenas curiosidade — mas inquietação. Afinal, como pode um método tão usado “sumir” da cavidade uterina sem deixar rastros visíveis? O caso, embora raro, evidencia falhas no monitoramento e riscos pouco debatidos do uso de DIU.
Ela relatou que, nas duas ultrassonografias transvaginais, o médico não identificou o DIU em seu útero. Em redes sociais, mencionou que nunca sentiu nada fora do normal — nenhum sintoma sugeriu expulsão ou deslocamento. “A moça que me fez o exame disse que já viu DIU ‘viajando pelo corpo’”, disse, sem saber ainda qual será o próximo passo para localizá-lo.
Por que o DIU pode “desaparecer”?
Especialistas alertam: o DIU não desaparece por conta própria. Há três explicações mais plausíveis:
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Expulsão silenciosa — o dispositivo pode ser eliminado durante a menstruação sem que a mulher perceba. Em muitos casos, o DIU sai pouco a pouco ou se solta de sua posição, especialmente nos primeiros meses após a colocação.
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Deslocamento intrauterino — dentro da cavidade uterina, o DIU pode se mover parcialmente, dificultando sua visualização em exames. Quando isso ocorre, sua eficácia contraceptiva pode ser reduzida e pode gerar sangramentos ou dores.
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Perfuração e migração — em situações mais raras, o DIU pode perfurar o útero e migrar para cavidade abdominal, alojando-se em locais como peritônio, próximas a órgãos internos, ou até perto do diafragma. Nesses casos, exames complementares como tomografia ou ressonância são necessários para localizá-lo.
O risco de perfuração, embora baixo, é maior durante a inserção ou se houver fragilidade na parede uterina. É por isso que, imediatamente após a colocação, exames de imagem devem confirmar o posicionamento correto.
Quais os riscos enfrentados?
Quando o DIU se desloca ou migra, surgem complicações que vão além da perda da eficácia contraceptiva:
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Gravidez ectópica: quando o óvulo fertilizado se implanta fora do útero — uma condição grave.
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Infecções: a presença de dispositivo deslocado pode facilitar a ascensão de bactérias para o interior uterino ou peritoneal.
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Dor, sangramentos e desconforto: sintomas inespecíficos podem indicar que algo está errado.
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Lesões em órgãos internos: caso o dispositivo migre para o abdômen, pode afetar estruturas próximas.
A ausência de sintomas não exclui risco: muitos casos só são detectados por exames de rotina ou quando o dispositivo falha.
O que fazer diante de um DIU “invisível”?
Diante dessa incerteza, especialistas recomendam uma série de passos:
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Realizar ultrassonografia assim que o DIU for colocado, para confirmar sua posição inicial.
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Fazer acompanhamento periódico — idealmente semestral — para verificar se houve deslocamento ao longo do tempo.
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Em caso de exame que não localiza o DIU, avançar para exames de imagem de corpo inteiro: ressonância, tomografia ou raio-X para buscar o dispositivo migrado.
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Evitar reposicionar o DIU por conta própria — qualquer intervenção precisa ser feita por profissional especializado.
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Avaliar sintomas como dor, sangramento irregular, sensibilidade ou alterações no ciclo menstrual — mesmo que sutis — e buscar orientação médica.
Um alerta para quem usa DIU
O caso da influenciadora serve como alerta exemplar: usar DIU não é garantia absoluta de que tudo permanecerá estável. A vigilância constante é fundamental. O método continua sendo seguro e eficaz para milhões de mulheres, mas exige responsabilidade médica e atenção da paciente.
Em um mundo em que discussões sobre saúde reprodutiva ganham visibilidade, esse episódio reforça uma verdade: dispositivos invisíveis não devem gerar negligência. Monitorar, examinar e agir com precisão é o que pode transformar um “mistério médico” em um caso resolvido.